Topo

Julio Gomes

O sorteio que fez todos sorrirem

Julio Gomes

24/04/2015 11h21

Quando se chega a uma semifinal de Champions League, não tem muito como escolher adversário. Ainda mais quando há 21 títulos somados em jogo, o quarteto final mais "pesado" que a competição já teve. A frase é tão batida quanto mentirosa, ainda mais no caso do sorteio realizado na sexta-feira e que emparelhou os gigantes que vão brigar pelo título europeu.

Os confrontos são Barcelona x Bayern de Munique e Juventus x Real Madrid, nas primeiras semanas de maio. E os quatro ficaram felizes com o sorteio.

No futebol, como em qualquer esporte, sempre há confrontos melhores e piores. Há o encaixe, o fator psicológico, o histórico e, por que não, aquela sensação de sempre "dar sorte" ou "dar azar" contra determinado oponente.

Para a Juventus, o confronto é o mais "ganhável" entre todos os possíveis. Porque o Real Madrid é fraco? Lógico que não. Mas porque o jogo tem mais possibilidades de encaixe.

A Juve, como historicamente fazem os times italianos, baseia seu jogo na fortaleza defensiva. E conta com grandes talentos para fazer muito com pouco, resolver jogos sem precisar criar dezenas de chances. O Real Madrid não se sente confortável contra times assim.

No DNA do Real em sua história recente, está o jogo de velocidade e verticalidade, aproveitando contra ataques e espaços. Espaços que a Juventus não dá nunca. Será um milagre se Cristiano Ronaldo se vir em uma situação de um contra um, e mesmo contra "só" dois será raro.

É verdade que o Real Madrid mudou um pouco com Carlo Ancelotti e a ascensão de Modric, o cérebro do time no meio de campo. Mas Modric está machucado, o que compromete – e muito – a criação de jogo necessária para sufocar e encontrar espaços contra a Juve.

Além do fator tático, a Juve tem a lembrança de sua última presença nas semifinais, contra o já "galáctico" Real Madrid, em 2003. Naquela ocasião, deu Juve. E, nas três vezes (2000, 2012, 2013) em que Real, Bayern e Barça estiveram juntos nas semis, o "quarto elemento" acabou sendo um dos finalistas.

Mas assim como a Juve preferia pegar o Real Madrid, como admitiu o próprio diretor esportivo do clube italiano, Pavel Nedved, o Real Madrid também preferia pegar a Juventus.

O Real tem o sério problema da ausência de Modric, o que faz com o que o comando de jogo, que o meio de campo tinha na campanha do título passado, não seja o mesmo. Contra o Atlético de Madri, nas quartas de final, Ancelotti precisou improvisar Sergio Ramos no meio, ao lado de Kroos.

O Atlético é um time com algumas características semelhantes à da Juventus, e o Real sofreu contra o Atlético durante toda a temporada – a vitória só veio no oitavo duelo entre eles, e com gol aos 43 do segundo tempo. Mas, ainda assim, é melhor enfrentar um time inferior, no papel, do que os outros dois. Que, por um lado, dariam espaço mas, por outro, trariam muitos outros problemas para o Madrid.

Não sei se concordo muito com a tese, mas é o que se nota pelas declarações e pelo que disseram os torcedores do Real Madrid em enquetes nos jornais espanhóis. A ideia geral é: para enfrentar Bayern de Munique ou Barcelona, neste momento da temporada, melhor fazê-lo em um jogo apenas (a final) do que em dois.

Se Juventus e Real Madrid são, entre os quatro, os dois times com alguns pontos fracos a mais a serem explorados, então eles seriam também os preferidos de Bayern de Barcelona, certo?

Errado.

Talvez Pep Guardiola seja o único "chateado" pelo sorteio tê-lo colocado frente a frente com o clube de sua vida. Talvez. Só ele sabe se, lá no fundo, queria ou não pegar o Barça.

O duelo dos dois times mais fortes da Europa neste estágio da temporada é o que todos os amantes do futebol queriam ver. Escolha o adjetivo para qualificá-lo. Sensacional, fantástico, empolgante… qualquer um serve.

Guardiola ganhou, inegavelmente, uma vantagem tática. É verdade que o Barcelona mudou peças desde sua época, mas ainda estão lá Daniel Alves, Piqué, Mascherano, Busquets, Iniesta, Messi, o clima no estádio…

Tem muitos elementos de conhecimento sobre o Barcelona e seus jogadores na cabeça genial de Guardiola. E ele usará todos. O Bayern de Munique tem um jogo forte em todos os aspectos, é uma máquina de criar chances de gol e de fazer gols, como nos mostraram as várias goleadas de 6, 7 ao longo da temporada. Foi pelo alto que o Bayern construiu a virada diante do Porto, nas quartas, e não dá para dizer que o Barcelona virou um time sólido nas bolas paradas – ainda que tenha evoluído muito em relação às temporadas passadas.

Dois anos atrás, o Bayern massacrou o Barcelona nas semifinais, no que parecia ser uma verdadeira passagem de bastão no futebol europeu. Histórico recente, o incômodo que times (e seleções) alemães têm quando enfrentam italianos, o fator Guardiola, o jogo de volta em Munique… são muitos os motivos para os bávaros celebrarem o sorteio.

E para o Barcelona, qual a vantagem de pegar o Bayern?

O Barça de Luis Enrique já não joga mais como o Barça dos anos anteriores. Não é refém do próprio estilo, conseguiu evoluir e agregar velocidade a seu jogo. Ele é mais parecido com o Real Madrid de Mourinho do que o próprio Real de Ancelotti.

Contra o Madrid (sem Modric) ou a Juventus, caberia ao Barça o controle do jogo. Já o Bayern dará espaços, dará o contra ataque, dará o que um time com Messi, Neymar e Suárez quer. O Barcelona, sem dúvida alguma, tentará copiar a receita que o Real Madrid usou contra o próprio Bayern de Guardiola nas semifinais do ano passado.

Resumo da ópera? Todo mundo ficou feliz. São semifinais das mais promissoras da história da Champions.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.