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Julio Gomes

Sem brilho, mas com Messi, Argentina deixa caminho aberto rumo à final

Julio Gomes

25/06/2014 18h23

Quem precisa de um time, se tem Messi? O maior gênio que o futebol viu surgir e jogar nos últimos dez anos resolveu que essa seria a Copa do Mundo dele. E, por enquanto, vai sendo. Não só dele, é verdade. Há outros brilhando muito. Mas o peso que Messi teve até agora para as três vitórias da Argentina foi maior do que o de Neymar para o Brasil e o de Robben para a Holanda.

Três dos quatro gols de Messi na Copa saíram de jogadas em que ninguém mais teve algo a ver com o lance. Ele está resolvendo literalmente sozinho.

Não é difícil encontrar torcedores argentinos ainda não convencidos com o futebol de Messi: "Diego (Maradona) era coração, magia, Messi é pura técnica", me contou um ontem, em tom crítico, ao lado da barraca em que estava dormindo aqui em Porto Alegre. Só faltou falar o "nunca será". Mas é o que ele quis dizer.

Mesmo assim, mesmo com alguns céticos que ainda insistem em duvidar, o Beira-Rio se rendeu a Messi nesta terça-feira. Aquele "Meeeessi, Meeeessi" que sempre se ouve no Camp Nou, com as pessoas se inclinando para frente, a veneração máxima, enfim.

O Messi de 2010 era melhor que o de hoje. Corria mais, se apresentava mais. O de hoje anda em campo, se desmarca pouco e quer bola no pé. Mas ela eventualmente chega a seus pés. E, quando chega…

"É o melhor do mundo e, graças a Deus, é argentino". A frase é do zagueiro Ezequiel Garay e mostra bem como Messi é visto pelos companheiros. O Messias, sem nenhuma tentativa de fazer jogo de palavra. "Ele significa tudo para o nosso time", resumiu um dos líderes do vestiário, o lateral Pablo Zabaleta à BBC. "Ele te simplifica as partidas", falou o goleiro Romero a este blog.

Defensivamente, a Argentina tem problemas. Mas, em uma Copa com média de 3 gols por partida, não é só ela que precisa ter preocupações atrás. Ofensivamente, também pelos espaços deixados pela Nigéria, a Argentina fez, em Porto Alegre, seu melhor jogo. Di Maria é um jogador espetacular e Higuaín, ainda que não tenha feito gol, abre espaços, procura o jogo, participa ativamente das tabelas. Sem Aguero, por incrível que pareça, o time ganhou um pouquinho mais de profundidade após a entrada de Lavezzi.

A Argentina não é uma máquina azeitada. Mas é um time com espírito, qualidade e, claro, um dos melhores jogadores de futebol de todos os tempos.

Tão bom quanto ter ganhado as três, tão bom quanto ver Messi inspirado, é pegar a tabela e olhar o caminho até a final. É por isso que Sabella não quis arriscar perder a primeira posição do grupo.

A Argentina vai enfrentar a Suíça nas oitavas de final. Depois, nas quartas, muito provavelmente, Bélgica ou Estados Unidos ou Gama. Nenhum bicho papão. O adversário da semifinal sai do "quadrado" mais fraco da chave: Holanda, México, Costa Rica ou Grécia. "Mas Julio, a Holanda não é forte?".

Claro que é. Mas o que é melhor? Pegar na semifinal da Copa a Holanda ou Brasil, Alemanha, Espanha, Itália ou mesmo algum sul-americano? Entre todos os times fortes da Copa, a Holanda não é o rival mais temido. E tem mais: tem que ver se a Holanda, com o estilo de defesa e contra ataque, conseguirá passar do México e, depois, Costa Rica ou Grécia. Nos dois jogos, os holandeses terão a responsabilidade de controlar e fazer o jogo, ao contrário do que aconteceu nas ótimas vitórias (baseadas em contra ataques) contra Espanha e Chile.

O caminho argentino só seria arruinado se a Alemanha perdesse para os Estados Unidos e fosse segunda de seu grupo. Isso colocaria a Alemanha no caminho da Bélgica (nas oitavas) e, possivelmente, da Argentina nas quartas. Foi a Alemanha, nas quartas, que tirou a Argentina das últimas duas Copas do Mundo. O normal é que os alemães, no entanto, pelo menos empatem com os americanos e garantam a primeira posição.

"Sabemos que cada jogo vai ser difícil, não importa que outras seleções estejam do outro lado da chave", foi o que me disse Zabaleta após a partida do Beira-Rio. Outros repetiram o discurso.

Lá no fundo, lá no fundo, eles pensam o mesmo que muitos torcedores argentinos me disseram em Porto Alegre. Perto do que, por exemplo, o Brasil terá pela frente, o caminho argentino rumo à final está para lá de aberto.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.