Topo

Julio Gomes

Seleção se poupa, mas não é poupada

UOL Esporte

06/06/2014 18h13

Se o que o Brasil jogou nesta sexta-feira, contra a Sérvia, for o máximo que puder jogar, #‎nãovaitercopa. Ou melhor, #‎nãovaiterhexa. Mas não acredito que seja o caso.

Diante de um adversário bastante mais forte do que o Panamá, vítima da última terça-feira, em Goiânia, o Brasil nitidamente se poupou. Guardou energias, salvou tornozelos e músculos.

A Sérvia não é uma seleção ruim. É verdade que ficou fora da Copa, mas tinha Bélgica e Croácia no grupo das eliminatórias europeias. Duas seleções melhores, simples assim. Há pelo menos oito seleções que estão na Copa que são piores do que a Sérvia e umas outras quantas em nível parecido. Portanto, não seria um passeio qualquer no Morumbi.

Uma falta em Neymar com menos de 2 segundos de partida deu o tom. A Sérvia jogaria para valer. E jogou. Entrou firme em algumas divididas, correu bastante, pressionou, criou chances. Não poupou o Brasil nem na bola nem na força. Foi, portanto, um teste muito mais válido do que o jogo contra o Panamá. Simulou o que pode ser o jogo contra a Croácia, até mesmo com a pressão exercida pela Sérvia no segundo tempo, dando campo e contra ataques (não aproveitados) ao Brasil.

Quem tampouco poupou a seleção brasileira foi o público. Que vaiou ao final do primeiro tempo e que pediu "Luis Fabiano" no início do segundo. Provocação pura, já que nem o mais fervoroso fã de Luis Fabiano pode considerar que seria justo ou correto levá-lo para a Copa do Mundo.

Com 1 a 0, lá pelos 34 do segundo tempo, algumas outras vaias foram ouvidas. Logo depois, quando Neymar foi substituído, houve uma mistura de aplausos com vaias. O mesmo se viu após o apito final.

Mas nada parecido com outros "massacres" que a seleção sofreu no passado no Morumbi – aquele de 2012, contra a África do Sul, o jogo do "fora Mano" e "Neymar pipoqueiro"; ou então aquele de 2001, pelas eliminatórias, contra a Colômbia, quando bandeiras foram atiradas no gramado.

A Sérvia não poupou o Brasil e foi um digno adversário. E a torcida não poupou a seleção, mas fica claro, para mim, que amistoso é amistoso, jogo de Copa é jogo de Copa. Não acredito nem por um segundo que ouviremos vaias ou o nome de Luis Fabiano ou qualquer outro nome no Itaquerão, quinta que vem, quando a coisa começar para valer. O torcedor de futebol tem esse espírito fanfarrão, mas sabe bem quando é mais importante ajudar o time (ou a seleção) do que dar risada com os amigos.

A Alemanha viu Reus sair chorando de campo, além de ter problemas com Neuer, Lahm e Schweinsteiger. A Argentina tem Messi meia boca, assim como Cristiano Ronaldo, a estrela de Portugal. A Espanha tem problemas com Diego Costa e Xavi e nem pôde levar Thiago. A França perdeu Ribery. A Holanda está sem Strootman, Van der Vaart e ainda viu Van Persie sair mancando do último amistoso. A Colômbia ficou sem Falcao. E ainda estou esquecendo de algum nome.

Todo mundo tem problemas, problemas sérios. O Brasil não tem problema algum, todos os jogadores que Felipão quer ter estão bem. É natural que muitos tenham jogado com o "freio de mão puxado" no Morumbi.

Problema mesmo vai ser se descobrirmos que o que vimos nesta sexta, em São Paulo, será uma história parecida com a de quinta que vem. Será?

Ainda não me segue no Twitter? Clique em www.twitter.com/juliogomesfilho

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.