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Julio Gomes

Henrique é quem destoa entre os convocados de Felipão. Mas importa?

Julio Gomes

07/05/2014 14h02

Dos 23 convocados por Felipão para a Copa do Mundo, nesta quarta-feira, só um destoa: Henrique. Mas tampouco precisamos fazer carnaval em cima disso. É o quarto zagueiro da lista, não vai ter muitos minutos e, se o Brasil perder a competição, dificilmente será por culpa dele.

Henrique é um jogador de 27 anos de idade que inexplicavelmente foi contratado pelo Barcelona em 2008 por 8 milhões de euros, depois de ser campeão paulista pelo Palmeiras. Nunca jogou um minuto sequer no Barça. Foi emprestado pro Bayer Leverkusen – e não deu certo. Foi para o Racing Santander – e não deu certo. Voltou para o Palmeiras. E deu certo? Não sei. Ganhou a Copa do Brasil, mas foi rebaixado (junto com Felipão) para a Série B e, no ano passado, levantou a taça da mesma.

Ele entra na cota "jogador de confiança" e "joga em duas posições", já que também sabe atuar como volante.

Sobre ser jogador de confiança, é subjetivo e compreensível. É natural que um líder (um chefe, que seja) prefira trabalhar com pessoas com quem tenha total empatia. É válido. Sobre jogar em duas posições, já acho mais difícil compreender. É verdade que Felipão convocou só um primeiro volante (Luiz Gustavo) e que seu reserva imediato, Fernandinho, joga melhor mais à frente.OK. Para isso está aí David Luiz. Jogou quase a temporada inteira como volante, com José Mourinho no Chelsea. Já tendo David Luiz, não haveria a necessidade de levar outro zagueiro que também possa atuar como volante.

Dizem que Henrique é um cara legal. Não o conheço pessoalmente e respeito qualquer profissional correto, mas o fato é que a convocação fará com que esteja na Copa um jogador que destoa dos colegas de profissão. Réver e Dedé estão acima (não muuito, mas estão). Marquinhos, do PSG, está acima e seria um investimento pensando nas próximas Copas.

Mas a grande injustiça mesmo é com Miranda. Se Victor e Fernandinho, por exemplo, foram chamados puramente pelo mérito futebolístico no último ano, o mesmo poderia ter acontecido com Miranda. Já está há alguns anos jogando muito bem no Atlético de Madri e é peça chave de um time que está "só" na final da Champions League e com o título espanhol nas mãos. Miranda não só merecia. Ele é simplesmente muito melhor, em todos os aspectos do jogo, do que Henrique.

Mas enfim, como eu disse no início neste post, não é pela presença de Henrique que o Brasil ganhará ou perderá o Mundial. O assunto morre aqui.

De resto, é a seleção que todos esperavam.

Quem não fez por merecer a convocação, pelo que jogou ao longo da temporada, foi Bernard. Se escondeu na Ucrânia, um país em crise (o que afetou . O lado bom da presença de Bernard, como revolucionário para um segundo tempo, é que os adversários não têm nem ideia de como ele joga, quais as características principais, pontos fortes e fracos, etc.

Chama a atenção como Lucas Moura, preterido pela "alegria das pernas" de Bernard, foi simplesmente esquecido. É bom lembrar que passamos quase toda a Copa das Confederações ouvindo os estádios brasileiros clamarem por "Lucas". Era uma crítica à presença de Hulk no time, e, ao mesmo tempo, uma demonstração de como o brasileiro gosta de jogadores do estilo Lucas e tem mesmo olhos fixos para o futebol jogado aqui, não o de fora – Lucas, meses antes, estava comendo a bola no São Paulo.

Infelizmente, preferir jogadores usando este critério é um erro. O futebol jogado aqui é de terceiro escalão. Lucas cresceu, é verdade, ao longo do ano no PSG. Mas, convenhamos, teve chance atrás de chance com Felipão e simplesmente não vingou. Não dá para criticar o técnico aqui.

Felipão sabe que ganhar a Copa com jogadores inexperientes é seu maior desafio.

Por isso, escolheu a dedo alguns veteranos que conhecem a dor da derrota: Júlio César no gol, Maicon na lateral direita, Fred no ataque. E encontrou lideranças naturais em Thiago Silva e David Luiz. Kaká era um plano, mas ficou pelo caminho e a pá de cal veio com a "descoberta" de Willian no meio – aliás, dos 23 convocados, Willian foi quem teve a melhor temporada na Europa. Robinho era uma opção a possíveis problemas com Fred e Jô, entraria na cota da experiência e do pandeiro – tampouco fez por merecer.

O time é bom, coeso, organizado, joga um futebol moderno e em casa. O problema pode ser a reação de um grupo assim jovem à adversidade. E quando o Brasil estiver perdendo, sendo vaiado, pressionado?

Mas não podemos esquecer, também, de uma possibilidade para lá de real. E se o Brasil nunca estiver perdendo?

Este blog parou por três meses para que algumas burocracias fossem resolvidas, mas agora está de volta a todo vapor. Este que vos escreve é agora editor da BBC Brasil em São Paulo (http://www.bbc.co.uk/portuguese/), mas não se preocupem! O blog voltou para ficar.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.