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Julio Gomes

Portuguesa já foi violentada. Agora só falta matar

Julio Gomes

17/12/2013 11h11

É difícil saber o que irrita mais em toda a história da virada de mesa que resulta, no momento, no rebaixamento da Portuguesa, salvação (mais uma!!) do Fluminense.

Irrita ver a destruição total da credibilidade de um campeonato que vinha se reerguendo pouco a pouco, após tantos anos de mandos, desmandos, regulamentos bizarros, Teixeiradas e Euricadas.

Irrita perceber a quantidade de coisas estranhas em sequência no julgamento de cartas marcadas. Vejamos:

Uma punição de dois jogos para uma expulsão que TV alguma conseguiu mostrar. Expulsão que, como mostra o levantamento da ESPN, em menos da metade dos julgamentos rende tamanho gancho. Na sequência do ocorrido, na calada da noite de uma sexta-feira, o obscuro advogado não informa o clube sobre a pena. A Portuguesa cai na armadilha com todo o amadorismo que tem direito. Aí, antes mesmo de a CBF indicar o erro, o procurador-geral Paulo Schmitt decreta a "falência do STJD" caso a Portuguesa não seja declarada culpada. Que velocidade!! Que gatilho, amigos! O mais rápido do oeste. Ou melhor, o mais rápido da zona sul.

O mesmo Schmitt que, três anos atrás, dizia, antes mesmo de analisar uma jurisprudência que poderia prejudicar o então campeão Fluminense, que seria "imoral" desrespeitar o resultado do campo. E aí, afinal, chega o julgamento. Em que a Portuguesa se defendeu de maneira quase tosca, mas em que ficou claro que poderia estar lá o maior advogado de todos os tempos que nada adiantaria. O relator abriu sua pastinha, levou a lição de casa, leu o que já havia preparado antes mesmo de escutar a defesa. E os outros, convenientemente, apenas "seguiram o relator".

Irrita que estes senhores não tenham, pelo menos, disfarçado.

Como também irrita o disfarce maior, este sim, um álibi perfeito. Pune-se também o Flamengo, mas sem prejuízo algum para o clube mais popular do Brasil. Assim, podem adotar o discurso do "este tribunal não tem olhos para poderosos e fracos, pune todos da mesma forma. Punimos a Portuguesa, mas punimos também o Flamengo".

Irrita, como não, o discursinho do Fluminense de "não temos nada a ver com isso". Mas que coisa! Para quem dizia que "apenas aguardava", não é que mandaram o advogado lá para participar do julgamento? Prontinhos para entrar com recurso. Que cara de pau.

Irrita ver como torcedores do Fluminense comemoraram uma vitória no tribunal. Burros! Isso mesmo, burros. Não percebem o mal que isso fará ao clube. O tricolor dispara na lista de clube mais antipático do país. E não se esqueçam de que ele faz parte do campeonato que teve sua credibilidade destruída. Perderão dinheiro todos os envolvidos, incluindo o próprio Fluminense. Um ano de Série B apagaria as viradas de mesa do passado, traria uma comunhão nova entre time e torcida, teria muito mais prós do que contras. Será muito mais humilhante para o tricolor ver seu time na Série A do que na Série B em 2014.

Irrita pensar que Héverton não teve nenhuma importância para o campeonato. Jogou pouco mais de 90 minutos, somando todas as partidas do campeonato. Não fez a menor diferença no jogo contra o Grêmio. E, mesmo que tivesse feito alguma diferença, o jogo em si não fazia diferença alguma para a Portuguesa.

Irrita pensar nos sete pontos que a Portuguesa perdeu no campo, antes de perder os quatro fora dele. O único time do campeonato todo que não ganhou um ponto sequer por erros de arbitragem (desafio alguém a mostrar o contrário). Sim, os erros vêm e vão, todos os times são ajudados aqui, atrapalhados ali. Menos a Portuguesa. Só foi prejudicada, o tempo inteiro, o ano todo. Até o também pequeno Criciúma, na hora H, ganhou um pênalti amigo contra o São Paulo na penúltima rodada. Que certamente compensou outros tantos erros. Para a Lusa, não teve pênalti mal dado nem expulsão esquisita nem nada de nada.

Um dos pontos tirados da Portuguesa foi, vejam só que coincidência, contra o próprio Fluminense. No campo também teve ajuda, pois. Não sou eu quem conta, é o Juca Kfouri mesmo.

Ao longo do ano, a Portuguesa foi estuprada pelas arbitragens da CBF. E ainda levou a culpa no fim. "Também, olha a saia curta que ela estava usando! A culpa é da moça…"

Paulo Maluf soltou, entre tantas outras bobagens na vida, aquela frase do "estupra, mas não mata!". José Maria Marin sucedeu Maluf no governo biônico do Estado de São Paulo, nos anos 80.

A CBF de Marin já estuprou a Portuguesa. O STJD de Schmitt já deu o tiro no estômago. Falta só matar. No dia 27. Já tem data para o tiro de misericórdia, na cabeça.

Quem clama pela justiça da bola, só tem um pedido a fazer. Piedade. Estuprem, mas não matem!

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.