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Julio Gomes

Robinho, um ponta firme na seleção. E Felipão escancara busca por veterano

Julio Gomes

31/10/2013 12h54

A última convocação da seleção brasileira, divulgada nesta quinta-feira, deu mais uma indicação daquilo que venho falando há tempos.

Luiz Felipe Scolari sabe que não se ganha uma Copa do Mundo só com moleques. É preciso ter veteranos no grupo, gente que conheça a alegria de uma vitória, a tristeza da derrota. Como agir, como fazer, o que falar, em que hora apertar no treino, em que hora poupar as pernas, o que os mais jovens gostam e precisam ouvir.

É nesse contexto que Júlio César foi resgatado para ser o goleiro titular. Que Felipão foi buscar Maicon para uma posição aberta, a de reserva de Daniel Alves. Nesse contexto, ele chamou Fred e Luis Fabiano, para depois escolher Fred para o comando do ataque. E, também nesse contexto, Felipão tentou com Ronaldinho (se decepcionou com a postura) e, depois, Kaká.

É uma seleção jovem demais, a atual. Que ganhou experiência e rodagem na Copa das Confederações, mas que não conhece, por exemplo, a dor da derrota. As consequências dela. A história das Copas mostra que conhecer o fracasso é fundamental para chegar ao sucesso.

Está claro que Felipão ainda busca um veterano, algúem que tenha experiência de outras Copas. E a bola da vez é Robinho. É bobagem perder tempo analisando se ele está bem, está mal. É muito mais um fator "grupo" do que um fator "técnico". É algo parecido com Edilson e Vampeta na Copa de 2002. Pela mesma razão, Kaká não pode ser considerado fora dos planos só por não estar nessa convocação. Felipão já conhece Kaká, não há mais testes a fazer. Se o cara engatar três, quatro, cinco meses jogando bem pelo Milan, pode aparecer em março ou na Copa. Ou não.

Como venho dizendo, são 18 vagas já definidas para a Copa, nomes que só sairão da lista em caso de lesão ou algo extraordinário. Sobram cinco vagas. A de terceiro goleiro (Cavalieri ou Victor), a de quarto zagueiro (Marquinhos, Réver, Henrique, Dedé na briga), lateral esquerdo reserva (Maxwell se afirma), volante reserva (Lucas Leiva parece o favorito) e uma ali no meio ou ataque.

Felipão pode levar um meia experiente pensando na reserva imediata de Oscar. É aí que se encaixaria Kaká. Pode levar um jogador que atue de forma mais aberta. Esse seria Lucas Moura, que agora ficou fora da convocação e parece ter um pé fora da Copa do Mundo, porque Bernard está na lista e resolve por ali. Willian, do Chelsea, pode atuar nas duas, tanto aberto quanto como número 10. Terá pouco tempo para mostrar serviço, mas é um garoto de muito talento e que merecia desde os tempos de Shakhtar. Tem futebol, só não tem experiência. Vai depender do que Scolari considera mais importante.

E aí tem Robinho. Que pode atuar pelo lado, como segundo atacante ou mesmo como um número 9. Robinho jogou como falso 9 pelo Milan contra o Barcelona, na Champions League, e jogou bem. Está na cara que essa partida foi fundamental para a convocação.

Sempre é bom lembrar que Fred, o titular da 9, está sempre machucado. E Jô, o reserva da 9, pode virar abóbora. Se Felipão não puder ou não quiser levar um desses dois, o que eu chamei de uma vaga aberta dobra de tamanho. Seriam duas. E é essa a possibilidade mais realista de Robinho estar na Copa. É por isso que Felipão queria Diego Costa e, também por isso, que ele não podia dar a Diego Costa a mesma certeza que a Espanha deu.

Eu convocaria Robinho? Possivelmente, não. Só que as pessoas confundem muitas coisas em relação a Robinho. Já falei bastante sobre isso nesse post aqui.

Robinho nunca deixou a seleção brasileira na mão. Deveria ter sido titular em 2006, no lugar de um dos "gigantões", fez um gigante Copa América em 2007, foi o grande nome de toda a vitoriosa era Dunga. E até meteu gol no jogo da eliminação, contra a Holanda, em 2010. Foram três anos difíceis para Robinho, de lesões, instabilidade, pouca sequência. Mas, sem ter sido o jogador que ele e outros esperavam que fosse, Robinho tem uma trajetória bastante digna no futebol europeu. Não é uma convocação absurda, longe disso.

Ah, mas e o Tardelli? E o gordinho Válter? Esses, me desculpem. Só vivem na boca do povo pelo que eu chamo de lobby Brasil.

Por fim, um crédito mais do que merecido. Parabéns ao furo dado por Paulo Vinícius Coelho, que adiantou a convocação de Robinho quando ninguém falava nela. Furos são cada vez mais raros no jornalismo esportivo, há de se valorizar o trabalho jornalístico bem feito. Ter convivido com PVC, principalmente quando dividimos quarto, na Copa de 2010, foi uma lição de humildade. Lição que eu precisava na época, seguirei precisando eternamente e que muitos, muitos outros precisam ter com urgência.

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.