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Julio Gomes

Ney Franco, chutado pelo São Paulo, está no G4 dos técnicos do Brasileiro

Julio Gomes

03/10/2013 11h52

Trocar de técnico dá certo? Para alguns clubes, sim. Para outros, não. Mas uma coisa é certa: times em que a troca de comando não funciona de forma contundente são os que estão mais abaixo na tabela. Para ser mais exato, os cinco últimos. Até agora, houve 15 técnicos demitidos no Brasileirão e outros quatro pediram de demissão.

Já são 19 trocas de comando em 25 rodadas, nada perto do que se vê nas principais ligas de futebol da Europa. Dos que pediram demissão, três não estão trabalhando no momento e um (Paulo Autuori) já foi demitido posteriormente. Se serve de consolo, dos 15 "degolados" ao longo do campeonato, cinco se reposicionaram em outros times. Somente sete clubes estão com o mesmo técnico desde o início do campeonato e um oitavo, o Santos, está sob o mesmo comando desde a terceira rodada.

Neste sábado, o Campeonato Brasileiro terá um confronto emblemático entre o São Paulo, agora de Muricy Ramalho, e o Vitória, de Ney Franco. Muricy foi mandado embora pelo Santos após apenas dois jogos, uma relação que já passava por desgaste. Daquele momento em diante, passou a ser uma sombra para o trabalho de Ney Franco no São Paulo. Somados os cinco jogos no comando tricolor no Brasileiro com os oito jogos desde que chegou ao Vitória, há exatamente um mês, Ney tem simplesmente o quarto melhor aproveitamento entre todos os técnicos. Está no G4 dos treinadores, com 59%, atrás apenas de Marcelo Oliveira, líder absoluto com o Cruzeiro, e Renato Gaúcho e Vágner Mancini, que assumiram logo após a pausa de junho e levaram Grêmio e Atlético-PR ao G4 na tabela.

Apesar do título da Copa Sul-Americana no ano passado, Ney Franco era acusado por torcedores do São Paulo por "não dar padrão tático" e "insistir com alguns jogadores abaixo da média". "Só ganhou a Sul-Americana porque tinha Lucas", berravam os críticos. Mesmo com a melhor campanha no Paulista, o São Paulo foi eliminado pelo Corinthians, nos pênaltis, nas semifinais. Na Copa Libertadores, caiu diante do Atlético Mineiro, que viria a ser campeão. Começou o Brasileiro com duas vitórias e um empate, foi líder por duas rodadas. Mas uma derrota em casa para o Goiás, logo depois da demissão de Muricy pelo Santos, transformou as coisas. O São Paulo ainda esperou toda a janela de pausa pela Copa das Confederações e, na volta, após derrota para o Corinthians na Recopa, demitiu Ney Franco. Um exemplo de planejamento.

A cabeça foi servida para deleite de muitos torcedores e jornalistas que colocavam nele TODA a culpa pela fase instável do clube. Nas semanas seguintes, vieram as duríssimas críticas de Rogério Ceni a seu trabalho. O diretor de futebol Adalberto Baptista também entrou em rota de colisão com o capitão e caiu (mas voltou em outro cargo). Chegou Paulo Autuori, e o aproveitamento, que era de 53% com Ney Franco, desabou a 25%. Do G4, o São Paulo foi ao Z4. Chegou, afinal, Muricy Ramalho. Com três vitórias seguidas, o time saiu da zona de rebaixamento, mas agora já são três derrotas seguidas (aproveitamento de 50%). Uma vitória do Vasco sobre o Inter bota o São Paulo de novo no Z4, e o próximo duelo, ironicamente, é contra Ney Franco.

Era uma covardia colocar nele toda a culpa por todos os males do São Paulo naquele período turbulento entre maio e julho. Agora, falar isso já não é nem covardia, é burrice mesmo. Ou maldade. Está na cara que o problema do clube não é de técnico. É um buraco muito mais embaixo, que começou a ser escavado com o golpe que representou a re-reeleição de Juvenal Juvêncio. Passa pela eterna soberba, pela fase de transição de saída de Rogério Ceni, enfim. Muito cacique para pouco índio, ouvidos atentos demais ao que falam imprensa e torcida, eleições pela frente. Degringolou.

E Ney Franco? Pegou um Vitória que demitiu de forma absurda Caio Júnior, que tinha bons 43% de aproveitamento, suficientes para evitar o rebaixamento. Mas essa foi daquelas trocas que, apesar de absurdas, deram certo. Em oito jogos, Ney Franco perdeu o primeiro, depois ganhou quatro e empatou três (63%), levando o Vitória a 37 pontos, em quinto lugar e a quatro da zona da Libertadores. O Vitória, que rumava para baixo na tabela, deu uma guinada e está a só oito pontos dos tais 45, o número mágico da permanência. Ou seja, não vai cair e, como o que vier é lucro, por que não sonhar com o G4?

Já imaginaram o São Paulo rebaixado com Muricy e o Vitória classificado para a Libertadores com Ney Franco? O que dirão os que foram tão duros em suas análises três, quatro meses atrás? Será que estavam mesmo acompanhando de perto o trabalho de Ney Franco no clube ou apenas funcionando como uma caixa de ressonância de quem não gostava dele (por X, Y, Z razões) dentro do São Paulo?

Não estou aqui para defender nem atacar ninguém, apenas para mostrar números. Não acho que Ney Franco seja o gênio da lâmpada, o Guardiola brasileiro, nada disso. Apesar me parecia estar levando pancada demais, além da conta. O São Paulo deu um chute no traseiro de um técnico, trouxe outros dois, atendendo ao clamor popular, patinou, patinou, patinou e continua na mesma situação. O técnico chutado tem o quarto melhor aproveitamento entre todos os técnicos do campeonato e está a um passo de colocar o Vitória, recém subido da Série B, em uma improvável batalha por uma vaga na Copa Libertadores da América. Estes são os dados. Logo, opinião cada um pode ter a sua. Só acho dureza opinar com tanta veemência sem conhecer o trabalho das pessoas no detalhe. Ou conhecendo só um lado e desprezando o que fala o outro lado.

Já citados aqui, Grêmio e Atlético-PR foram outros dois clubes que se beneficiaram com as trocas. Curioso é que Vanderlei Luxemburgo, que tinha 53% no Grêmio, agora tem 52% no Fluminense (que tinha 33% com Abel Braga). Ou seja, o Grêmio melhorou ao trocar Luxa, mas o Fluminense também melhorou ao trazê-lo, podendo voltar a sonhar com Libertadores. A Portuguesa, que tinha uma vitória apenas e 26% com o tal coronel Pimenta, saltou para 50% de aproveitamento com Guto Ferreira, escapando da zona baixa.

E outro que se deu bem foi o Flamengo, que tinha 17% com Jorginho, subiu para 41% com Mano e agora tem 78% com Jayme de Almeida (duas vitórias e um empate). Jayme se beneficia e ganhou duas vezes do Criciúma, pois dirigira o time como interino na transição entre Jorginho e Mano. Ainda são poucos jogos para avaliar o trabalho do interino que, dizem, fica até o fim do Brasileiro. Mas a química parece estar sendo boa.

Os cinco últimos colocados do campeonato trocaram muitas vezes de técnico. Melhora um pouco, cai um pouco, fica naquela gangorra e a coisa só vai piorando. O Náutico já está no quinto treinador e agora, virtualmente rebaixado, ganhou duas e empatou uma desde a chegada de Marcelo Martelotte. Possivelmente não haverá tempo para escapar mas, sim, para atrapalhar muita gente pelo caminho. A Ponte Preta demitiu Guto Ferreira logo no comecinho, aí teve 40% com Carpegiani e, agora, tem 26% com Jorginho. Rumo à Série B com passos firmes. O Vasco teve 39% com Paulo Autuori e 37% desde que Dorival Júnior assumiu. Sempre abaixo dos 40% necessários para a permanência. O Criciúma melhorou dos 31% de Vadão para os 42% de Sílvio Criciúma, mesmo assim trocou de novo e ainda não venceu com Argel Fucks no comando. E do São Paulo nós já falamos.

Quem quer entrar na dança ali é o Coritiba, que mandou embora Marquinhos Santos apesar de seus 45% de aproveitamento, o 12o entre todos os técnicos. Péricles Chamusca, que no primeiro semestre dirigiu a Portuguesa na A-2 Paulista e foi mandado embora após perder de 7 do Comercial de Ribeirão, já estreou com derrota em casa e vaias no Coritiba. Algo me diz que o Coxa ainda trocará de novo de técnico até o final do campeonato.

Na lista abaixo, o aproveitamento de cada um dos treinadores que estão ou passaram pelo Brasileiro. Em negrito, os que estão ativos no cargo. Chamam a atenção nomes como Muricy, Mano, Abelão e, principalmente, Autuori lá na parte de baixo da lista. Será que nome ganha jogo mesmo? Ou será que estamos na iminência de uma renovação verdadeira nos quatros?

 

TÉCNICO (TIMES)APROVEITAMENTOCAMPANHA
Marcelo Oliveira (Cruzeiro)74,7% (56 pontos em 25 jogos)17v 5e 3d
Vágner Mancini (Atlético-PR)64,8% (35 pontos em 18 jogos)10v 5e 3d
Renato Gaúcho (Grêmio)61,7% (37 pontos em 20 jogos)11v 4e 5d
Ney Franco (São Paulo e Vitória)59,0% (23 pontos em 13 jogos)6v 5e 2d
Oswaldo Oliveira (Botafogo)57,3% (43 pontos em 25 jogos)12v 7e 6d
Vanderlei Luxemburgo (Grêmio e Fluminense)52,4% (33 pontos em 21 jogos)8v 9e 4d
Claudinei Oliveira (Santos)50,7% (35 pontos em 23 jogos)9v 8e 6d
Cuca (Atlético-MG)50,7% (38 pontos em 25 jogos)10v 8e 7d
Dunga (Internacional)45,3% (34 pontos em 25 jogos)8v 10e 7d
Tite (Corinthians)45,3% (34 pontos em 25 jogos)8v 10e 7d
Guto Ferreira (Ponte Preta e Portuguesa)45,0% (27 pontos em 20 jogos)8v 3e 9d
Marquinhos Santos (Coritiba)44,9% (31 pontos em 23 jogos)7v 10e 6d
Enderson Moreira (Goiás)44,0% (33 pontos em 25 jogos)8v 9e 8d
Caio Júnior (Vitória)43,1% (22 pontos em 17 jogos)6v 4e 7d
Cristóvão Borges (Bahia)42,7% (32 pontos em 25 jogos)8v 8e 9d
Muricy Ramalho (Santos e São Paulo)41,7% (10 pontos em 8 jogos)3v 1e 4d
Sílvio Criciúma (Criciúma)41,7% (10 pontos em 8 jogos)3v 1e 4d
Mano Menezes (Flamengo)41,2% (21 pontos em 17 jogos)5v 6e 6d
Paulo César Carpegiani (Ponte Preta)40,0% (12 pontos em 10 jogos)3v 3e 4d
Dorival Júnior (Vasco)36,8% (21 pontos em 19 jogos)5v 6e 8d
Abel Braga (Fluminense)33,3% (9 pontos em 9 jogos)3v 0e 6d
Ricardo Drubscky (Atlético-PR)33,3% (6 pontos em 6 jogos)1v 3e 2d
Vadão (Criciúma)31,1% (14 pontos em 15 jogos)4v 2e 9d
Paulo Autuori (Vasco e São Paulo)29,8% (17 pontos em 19 jogos)4v 5e 10d
Édson Pimenta (Portuguesa)25,9% (7 pontos em 9 jogos)1v 4e 4d
Levi Gomes (Náutico)23,8% (5 pontos em 7 jogos)1v 2e 4d
Jorginho (Flamengo e Ponte Preta)21,4% (9 pontos em 14 jogos)2v 3e 9d
Zé Teodoro (Náutico)19,0% (4 pontos em 7 jogos)1v 1e 5d
Silas (Náutico)11,1% (1 ponto em 3 jogos)0v 1e 2d
Jorginho Cantinflas (Náutico)0,0% (0 pontos em 5 jogos)0v 0e 5d

Outros técnicos em atividade*:

TÉCNICO (TIME)APROVEITAMENTOCAMPANHA
Jayme de Almeida (Flamengo)83,3% (10 pontos em 4 jogos)3v 1e 0d
Marcelo Martelotte (Náutico)77,8% (7 pontos em 3 jogos)2v 1e 0d
Argel Fucks (Criciúma)16,7% (1 ponto em 2 jogos)0v 1e 1d
Péricles Chamusca (Coritiba)0,0% (0 pontos em 1 jogo)0v 0e 1d

* Estão fora da lista maior pois ainda têm um número baixo de jogos.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.