Topo

Julio Gomes

Saída de Vitinho é ducha de água fria e praticamente tira Botafogo da briga

Julio Gomes

27/08/2013 01h29

O Botafogo faz uma temporada heroica. Sem a Unimed, sem a grana que o Flamengo recebe da TV, sem encher estádios, agora sem o Engenhão… Ganhou o Campeonato Carioca sem precisar de final, está a ponto de eliminar o campeão da América da Copa do Brasil e está a dois pontos da liderança do Campeonato Brasileiro. Os caras não recebem salários há dois meses. Dívidas fiscais representam o bloqueio das receitas – o que deveria acontecer com todos os clubes que têm dívidas.

Resumindo. É uma situação péssima extra-campo, que teria tudo para representar fracasso dentro de campo.

Mas não. Pelo contrário. Com muito profissionalismo, bons jogadores e um ótimo treinador, o Botafogo consegue resultados que simplesmente não combinam com o que normalmente estaria acontecendo. Claro, sem nunca esquecer o fator Seedorf. Um veterano que fala o idioma, já viveu tudo no futebol, é um gênio do esporte e está ensinando muitas coisas a todos dentro do clube.

E aí, com as saídas de Andrezinho e Fellype Gabriel, aparece Vitinho. E agora, vai-se Vitinho. 19 anos, revelação, ótimo jogador, evoluindo claramente a cada rodada, xodó de Seedorf.

Um jogador fundamental no Botafogo atual. Velocidade no meio de campo, drible, finalização de fora da área. Não, não é o novo Neymar. Não é Vitinho e mais dez. Mas o garoto está fazendo muita diferença para o time, suas características o fazem muito menos substituível do que a maioria dos outros companheiros.

O CSKA vai pagar a multa, o Botafogo não tem nada o que fazer. E possivelmente nem verá os 60%a que teria direito. Não adianta o torcedor quebrar tudo, xingar todo mundo… certamente o clube não queria que ele fosse embora. E só temos a lamentar que vá embora Vitinho, um menino símbolo do lixo social em que vivemos, diretamente do mundo de violência que assolou por anos o Complexo do Alemão para a titularidade, a fama, a chance de ganhar um dinheiro que nunca viu. Mais do que dinheiro, imagino o que ele não ganhou de "amigos" nos últimos meses…

Esportistas como esse garoto não têm estrutura alguma para recusar tudo isso. É difícil fazê-lo entender que ficar no Botafogo representaria tanta coisa que, daqui a dois anos, todos daríamos risada da proposta do CSKA. E tem pressão de empresário, família, etc. Vai para uma cidade linda e gigante, ameaçadora e fria, cheia de pecados, pouco futebol, idioma para lá de estranho. Espero que seu entorno e o novo clube ajudem muito para que essa promissora carreira não se perca por aí. Que apareça outro Seedorf para adotá-lo no caminho.

E o Botafogo?

Bom, para mim é mais do que a saída de um jogador importante. É simbólico.

Do que mais os funcionários, jogadores e treinador precisam para baixar a cabeça? Mais dramático que isso, só se Seedorf fosse embora ou se lesionasse. Ducha de água fria. É um movimento emblemático que deve tirar o Botafogo da briga pelo título. Título que já seria quase um milagre, dada a situação geral, a característica maratônica do campeonato e a concorrência endinheirada por perto. É lutar para ficar no G-4, o que já seria um feito e tanto para o Botafogo.

O futebol brasileiro continua andando para trás. A saída de mais esta promessa é uma grande pena. Seja feliz, Vitinho! Estou na torcida para que a vida seja melhor daqui para frente do que foi até pouco tempo atrás.

Na virada da noite, surgiu a notícia de que o Porto poderia atravessar o negócio, e Vitinho sairia no fim do ano. Seria uma graaaande notícia para todas as partes. Para o Botafogo, teria efeito reverso ao que seria o da saída. Para ele, ir para o Porto significaria ir a um clube maior da Europa e para um país de mesmo idioma, com adaptação muito mais fácil. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.