Topo

Julio Gomes

Atlético some, filme que já vimos. Meu calendário ideal acaba com isso

Julio Gomes

04/08/2013 17h55

O Atlético Mineiro, campeão da Libertadores, está na zona de rebaixamento do Brasileiro após tomar uma contundente cacetada do Flamengo. Ainda não estreou no campeonato, basicamente. E sei lá se vai estrear.

Logicamente, o Galo não vai cair, pois encontrará uma maneira de ganhar jogos fáceis em seu Horto e somar pontos suficientes. E não cair é tudo o que sobra para o Atlético neste campeonato, por mais triste que isso seja. O Galo não é campeão brasileiro desde 1971, mas é duro correr atrás de 10, 12 pontos de desvantagem em um campeonato tão equilibrado. A chance de rever um título nacional é muito mais palpável na Copa do Brasil, até porque o sistema de jogo "Galo Doido" é mais adequado para o mata-mata do que para o sistema maratona dos pontos corridos.

O Santos, campeão da Libertadores de 2011, não jogou o Brasileirão. O Corinthians só estreou no segundo turno ano passado. Acabou em sexto, mas tinha força e time para ser bicampeão, tivesse jogado o campeonato inteiro e não usado apenas como preparação para o Mundial. O filme do Atlético-2013 é um que já vimos. E que distorce completamente o Brasileiro, já que um time forte acaba jogando às vezes com titulares, às vezes com reservas, às vezes com vontade genuína de ganhar, às vezes sem dar a mínima. Dá pontos para times que não ganhariam tais pontos normalmente, ou seja, muda a lógica esportiva da competição.

Podemos criticar os times? Sim, podemos. Mas o buraco é mais em baixo, amigos. O Brasil precisa urgente de uma mudança de calendário.

Minha proposta está detalhada abaixo e requer leitura com atenção. Basicamente teríamos o Brasileiro sendo disputado de janeiro e agosto, ao mesmo tempo que a Libertadores. Um time pode até priorizar a Libertadores em determinado momento, mas a essa altura o Brasileiro já estará na reta final. Ninguém poderá começar o campeonato desencanando dele, como acontece atualmente. Aí o campeão da Libertadores vai "dar migué" no quê, no segundo semestre? Nos Estaduais e na Copa do Brasil. Será eliminado, sem maiores consequências para a competição.

Em centros menores, ser campeão estadual já não tem o mesmo peso de outrora. O torcedor de um time do Nordeste já sabe que ganhar seu torneio local não quer dizer nada – desde que o Brasileiro virou um torneio de pontos corridos, dá para contar nos dedos de uma mão os times nordestinos que ficaram entre os 10 primeiros.

Estou, neste post, sugerindo um calendário para o futebol brasileiro. Não fiz estudo algum, coisa que deveria ser feita por quem realmente tem poder para fazer o calendário. Jogo minha ideia na mesa e dou a cara para bater. Critiquem, comentem, cornetem, elogiem. Só peço uma coisa. Não pense em seu time, pense no todo.

Com esse calendário, tento ajudar times grandes, médios e pequenos. Os grandes precisam dos médios e pequenos, não adianta achar que o fim desses clubes é a solução. Os médios e pequenos precisam dos grandes, mas não podem viver deles em uma relação parasita.

Sou contrário ao fim dos Estaduais, mas eles precisam ser mais dinâmicos e precisam de uma razão de ser. Eu colocaria o Brasileirão de janeiro a agosto, assim ele não seria afetado pelas janelas europeias de transferência. Meu Brasileirão teria os dois campeões dos turnos mais dois times jogando semifinais e final. Mas isso é detalhe. Mesmo que ele siga em formato de pontos corridos, o calendário seria o mesmo. O debate é de datas, não formatos.

Proponho uma Série C regionalizada, para diminuir custos. Sem rebaixamento. Quem subir da Série C para a Série B, subiu. Quem não subiu, só disputa de novo a Série C no ano seguinte se conseguir a classificação via Estaduais – estes são disputados durante o ano todo e recebem os times "grandes" só em setembro, outubro e novembro (como classificatórios para a Série C, eles teriam função de quarta divisão). Na mesma época, serão disputadas as fases finais da Copa do Brasil, deixando o calendário bastante interessante nessa parte do ano.

Enfim. Percam 10 minutos e leiam minhas ideias abaixo. Se eu fosse presidente da CBF, juntaria os clubes e tentaria convencê-los deste calendário. Pelo bem de todos.

JANEIRO
– Pré-temporada
– Jogos e torneios de pré-temporada (TV pode mostrá-los para ocupar a grade)
– Convites para times europeus virem ao Brasil treinar e jogar
– Copa SP de juniores

FEVEREIRO
– Brasileiro A
– Brasileiro B
– Brasileiro C
– Libertadores
– Estaduais (sem times das Séries A, B, C)

MARÇO
– Brasileiro A
– Brasileiro B
– Brasileiro C
– Copa do Brasil (sem times da Libertadores)
– Libertadores
– Estaduais (sem times das Séries A, B, C)

ABRIL
– Brasileiro A
– Brasileiro B
– Brasileiro C
– Copa do Brasil (sem times da Libertadores)
– Libertadores
– Estaduais (sem times das Séries A, B, C)

MAIO
– Brasileiro A
– Brasileiro B
– Brasileiro C
– Copa do Brasil (sem times da Libertadores)
– Libertadores
– Estaduais (sem times das Séries A, B, C)

JUNHO
– Brasileiro A
– Brasileiro B
– Brasileiro C
– Copa do Brasil (sem times da Libertadores)
– Libertadores
– Estaduais (sem times das Séries A, B, C)

JULHO
– Brasileiro A
– Brasileiro B
– Brasileiro C
– Estaduais (sem times das Séries A, B, C)

AGOSTO
– Brasileiro A (finais)
– Brasileiro B (quadrangular de acesso)
– Brasileiro C
– Sul-Americana (eliminatórias entre brasileiros)

SETEMBRO
– Estaduais (só fim de semana)
– Copa do Brasil (Quarta fase e oitavas)
– Sul-Americana

OUTUBRO
– Estaduais (só fim de semana)
– Copa do Brasil (quartas e semifinais)
– Sul-Americana

NOVEMBRO
– Estaduais (só fim de semana)
– Copa do Brasil (final)
– Sul-Americana

DEZEMBRO
– Férias
– Final Sul-Americana (se alguém chegar)
– Final Mundial (se alguém chegar)

Série A
– Última semana de janeiro até a primeira semana de agosto (28 semanas)
– pontos corridos (como hoje) ou dois campeões de turno + 2 melhores times por índice fazem semi e final em agosto (se o mesmo time ganhar os dois turnos, leva a taça)
– quatro primeiros vão para a Libertadores (somando os pontos dos dois turnos, independente do quadrangular final e da definição de quem seja campeão, vice, etc); 5o a 12o na Sul-Americana
– dois últimos colocados caem direto para a Série B
– 17o e 18o jogam quadrangular com 3o e 4o da Série B
– Total de 38 ou 42 datas para título, 44 para rebaixamento

Série B
– pontos corridos
– dois primeiros sobem, 3o e 4o jogam quadrangular de acesso com times da Série A
– quatro últimos caem e jogam a Série C necessariamente no ano seguinte
– Total de 38 datas (44 datas para terceiro e quarto colocados em busca do acesso)

Série C
– 8 grupos regionais de 10 times, divididos assim:
– Grupo Sul (4 RS, 3 SC, 3 PR)
– Grupo Paulista (10 SP)
– Grupo Sudeste (4 RJ, 4 MG, 2 ES)
– Grupo Centro-Oeste (2 GO, 2 DF, 2 TO, 2 MT, 2 MS)
– Grupo Norte (3 AM, 3 PA, 1 RO, 1 RR, 1 AC, 1 AP)
– Grupo Nordeste 1 (4 CE, 3 MA, 3 PI)
– Grupo Nordeste 2 (4 PE, 3 RN, 3 PB)
– Grupo Nordeste 3 (4 BA, 3 SE, 3 AL)

– Após 9 rodadas, somente 1 turno, classificam-se os 2 primeiros. Os eliminados "caem" para seus estaduais, que terão começado em fevereiro
– Com os 16 classificados, formam-se 2 octogonais, Norte e Sul
– Jogos em turno e returno dentro dos octogonais (14 rodadas)
– Dois primeiros de cada octogonal sobem para a Série B e fazem semifinal e final entre eles para definir o campeão da Série C
– Não há rebaixamento na Série C, pois os Estaduais são classificatórios para a Série C seguinte (ou seja, mesmo quem for bem na Série C, caso não suba para a Série B, precisará garantir, via Estadual, a presença no torneio no ano seguinte)
– Total de 27 datas para título

Copa do Brasil
– participação dos 120 times das Séries A, B e C
– Modelo igual ao da Copa da Inglaterra. Em todas as fases, os confrontos e o mando de campo são definidos por sorteio puro. Quem ganhar, passa. Se houver empate, joga-se uma segunda partida na casa do outro time. Novo empate, pênaltis. Não há chaveamento, há sorteio aberto antes de cada fase.

Hipótese 1: Se um time brasileiro não tiver ganhado Libertadores anterior:
– além dos 120 já citados, outros 101 times vêm dos Estaduais do ano anterior
– 4 melhores dos 20 Estaduais de melhor coeficiente CBF
– 3 melhores dos outros 7 Estaduais
(esses 101, sempre times que não estejam nas Séries A, B e C)

– Primeira fase com 216 times, 108 jogos. Sorteio puro de duelos e mandos, jogo único. Se empatar, volta no campo do outro time. Outro empate, pénaltis (modelo Copa da Inglaterra)
– Segunda fase com 108 times, 54 jogos.
– Terceira fase com 54 times, 27 jogos.
– Quarta fase com 32 times (27 classificados mais os 5 da Libertadores).
– Oitavas, quartas e semifinais sempre no mesmo modelo. Final no dia 15 de novembro, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília.
– Total de 14 datas mais a final

Hipótese 2: Se time brasileiro tiver ganhado Libertadores anterior:
– mais 94 times vêm dos estaduais do ano anterior
– 4 melhores dos 13 Estaduais de melhor ranking CBF
– 3 melhores dos outros 14 Estaduais
(esses 94, sempre times que não estejam nas Séries A, B e C)

– Primeira fase com 208 times, 104 jogos. Sorteio puro de duelos e mandos, jogo único. Se empatar, volta no campo do outro time. Outro empate, pénaltis (modelo Copa da Inglaterra)
– Segunda fase com 104 times, 52 jogos.
– Terceira fase com 52 times, 26 jogos.
– Quarta fase com 32 times (26 classificados mais os 6 da Libertadores).
– Oitavas, quartas e semifinais sempre no mesmo modelo. Final no dia 15 de novembro, em Brasília.
– Total de 14 datas mais a final (6 datas no primeiro semestre, 8 no segundo)

Estaduais
– Em fevereiro, começam a disputa somente os times que não estiverem nas Séries A, B e C do Brasileiro
– Em março ou abril, entram no torneio os times eliminados na primeira fase da Série C

– Disputados entre fevereiro e agosto, são torneios classificatórios para as fases finais dos Estaduais, movimentando times de todo o Brasil ao longo do ano. O rebaixamento para a segunda divisão regional ocorrerá nessa época do ano. Sim, eles ganharão uma conotação de futebol amador, local, atraindo o público de suas cidades em busca do sonho de chegar às divisões nacionais.

– Fases finais dos Estaduais, em setembro, outubro e novembro, jogadas apenas aos fins de semana, em 12 datas (no máximo)
– Times que estiverem nas Séries A, B e C do Brasileiro entram nas fases finais dos Estaduais sem poderem ser rebaixados localmente, pois já terão entrado nas fases finais
– X times de cada Estado, que não estiverem nas Séries A e B, se classificam para a Série C do ano seguinte. Ou seja, é o resultado final dos Estaduais que define quem joga a Série C seguinte
– Y times de cada Estado podem garantir vaga na Copa do Brasil, mesmo sem se garantir na Série C

VANTAGENS
– Janelas de transferência de jogadores de janeiro e agosto nos extremos do Brasileiro, sem prejudicar o campeonato
– Times só deixarão Brasileiro de lado se estiverem nas finais da Libertadores, já passada a primeira metade do campeonato
– Todos os times fazem pré-temporada completa em janeiro (TV tem amistosos e Copa SP para passar)
– CBF + cotas de TV pagam viagens dos times da Série C também, é necessária a criação de um fundo que viabilize a terceira divisão nacional
– Entre setembro e novembro, Copa do Brasil estará em seus momentos decisivos
– Estaduais ganham prioridade dos clubes grandes que não estiverem na Copa do Brasil e/ou Sul-Americana
– Brasileiro que estiver no Mundial abre mão de um Estadual, no máximo, e não de todo um Campeonato Brasileiro

12 times grandes do Brasil:
– Jogam Brasileiro e Libertadores (ou Copa do Brasil) até o fim de julho
– Em agosto, podem fazer amistosos no exterior e ganhar dinheiro em excursões, caso não estejam nas finais do Brasileiro
– Entre setembro e novembro, podem estar nas finais da Copa do Brasil, na Sul-Americana e Estaduais
– Ou podem estar somente nos Estaduais, dando valor ao torneio e "salvando" o ano

Times grandes em seus Estados, médios nacionalmente:
– Com formato diferente do Brasileiro, tem uma pequena chance de chegar ao título (hoje, a chance é zero)
– Um Estadual no fim do ano pode ter efeito positivo, após ano em competitividade nacional
– Tem chance maior de título na Copa do Brasil, com jogos únicos e sorteio puro, podendo chegar à Libertadores por este caminho
– Precisa valorizar Estadual, caso não esteja nas Séries A e B (para se garantir na Série C e na Copa do Brasil)

Times pequenos
– Mesmo se não estiverem nas Séries A, B e C nacionais, estarão em ação ano inteiro
– Sempre há objetivo importante, que é se classificar, via Estadual, para Série C e/ou Copa do Brasil
– Na Copa do Brasil, pode enfrentar os grandes dependendo do sorteio
– Se fizer Estadual bacana ao longo do ano, pode jogar contra time grande local nas finais do Estadual

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.