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Julio Gomes

Copa da Marmelada do Brasil: os grandes foram grandes

Julio Gomes

26/07/2013 15h41

Flamengo, Cruzeiro, Internacional, Santos e Botafogo. Os cinco maiores clubes do país que entraram na Copa do Brasil desde o início mostraram por que são grandes. Passaram por quem tinham que passar, estão nas oitavas de final e, como consequência, perderam o direito de disputar a Copa Sul-Americana.

Relembrando a esdrúxula definição da CBF. As oito vagas brasileira na Sul-Americana seriam preenchidas pelos oito melhores do último Campeonato Brasileiro, exceto os times que se classificaram para a Copa Libertadores. Desde que, e aqui está a premissa bizarra, tais times não estivessem nas oitavas de final da Copa do Brasil.

Foi aí que a Copa do Brasil virou a Copa da Marmelada do Brasil. Porque, afinal, seria muito mais interessante disputar a Copa Sul-Americana do que a Copa do Brasil, sendo o prêmio pelo título nos dois torneios idêntico: uma vaga na Libertadores 2014.

Enquanto a Copa do Brasil tem a presença dos times da Libertadores, a Sul-Americana abriga clubes menos poderosos do Brasil e também, pelo menos em teoria, os times da América do Sul que não são os principais de seus países. Não que ganhar a Copa Sul-Americana seja uma "baba", lógico que não. Mas a pedreira é menor do que na Copa do Brasil, e o status de torneio internacional faz olhos de torcedores e dirigentes brilharem.

Muito bem. Flamengo, Inter e Cruzeiro passaram sem muitos problemas por seus adversários nas três primeiras fases da Copa do Brasil. Fizeram o que deles se esperava. Botafogo e Santos tiveram mais problemas.

O Botafogo ganhou por 1 a 0 do Figueirense na ida e perdeu por 1 a 0 na volta, classificando-se somente nos pênaltis. Mandou todos os titulares para a friaca de Florianópolis na quarta, Seedorf incluído. Se quisesse ser eliminado, o Botafogo poderia ter poupado gente importante ou pedido para um par de jogadores chutarem seus pênaltis na lua. Ninguém desconfiaria de nada. Ainda bem, não foi o que aconteceu.

O Santos empatou com o Crac, de Goiás, na Vila Belmiro. O Crac não venceu um jogo sequer na Série C até agora, então foi um resultado para lá de surpreendente. Aí, o Santos resolveu poupar alguns de seus titulares para a partida de volta, em Catalão. Eu fiquei desconfiado, admito. Podia estar pintando ali uma marmelada. Ainda bem, não pintou. A molecada do Santos ganhou por 2 a 0 e não deixou que o manto sagrado do Santos ficasse sujo.

Parabéns a eles, parabéns ao Santos.

Aqui neste espaço, fiquei negativamente surpreso com a quantidade de gente falando que "a culpa era da CBF, o Santos tem mais que entregar mesmo". Na minha ética esportiva, jogar para perder não é aceitável. Não é viver no mundo da fantasia, é viver dentro de uma linha conceitual.

Goiás e Atlético Paranaense foram os outros dois times da primeira divisão que não "aderiram" à tática de perder na Copa do Brasil para jogar a Sul-Americana. Palmas para eles também.

O mesmo não se pode dizer dos outros sete integrantes da primeira divisão nacional. Náutico, Coritiba, Bahia, Vitória, Ponte Preta, Portuguesa e Criciúma. Os sete foram eliminados precocemente na Copa do Brasil e por times muito, mas muito inferiores tecnicamente. E nunca, na história da Copa do Brasil, sete times da primeira divisão haviam sido eliminados por times de outras divisões. Não estamos falando de simples coincidência, isso sim é viver no mundo da fantasia.

Portuguesa e Bahia estavam em uma draga técnica tremenda quando perderam para Naviraiense e Luverdense, respectivamente. A Lusa vinha de levar 7 do Comercial de Ribeirão na segunda divisão paulista, com jogadores sem receber salários – ainda estão. O Bahia havia levado 7 do Vitória, estava sem técnico e a torcida fez a campanha "público zero" no jogo da eliminação para o Luverdense. Esses clubes viviam e vivem tamanha crise administrativa que não dá nem para imaginar que algum dirigente tenha sido "brilhante" suficiente para pensar maquiavelicamente em uma eliminação proposital. Mas vai saber.

O Náutico, estamos vendo agora na primeira divisão e vimos também no primeiro semestre, vive sérios problemas técnicos. Mas foi eliminado logo na primeira fase pelo Crac, esse mesmo que ainda não ganhou um jogo sequer na terceira divisão. E que foi o sétimo (entre dez) no Campeonato Goiano, escapando do rebaixamento por um ponto. Não foi um resultado normal.

Vitória e Criciúma foram eliminados pelo Salgueiro, da quarta divisão nacional. O Salgueiro foi o penúltimo no turno preliminar do Pernambucano, não passando nem perto das semifinais, e também foi eliminado na primeira fase da Copa do Nordeste. O Vitória era o campeão baiano (com estilo e contundência) e já vivia, com Caio Junior, o bom momento que carregou para o Brasileirão. O Criciúma caiu levando gol no finalzinho.

Ponte Preta e Coritiba foram eliminados pelo Nacional de Manaus, outro time da quarta divisão. A Ponte Preta nem disfarçou que queria jogar a Copa Sul-Americana. Botou os reservas e perdeu as duas partidas por 1 a 0. O Coritiba havia sido campeão paranaense no fim de semana e não fez questão alguma de limitar a festa porque tinha jogo na quarta-feira em Manaus. Não mandou Alex, disparado seu melhor jogador, para a partida de ida: levou de 4 a 1. E não reverteu em Curitiba, agora sim com Alex em campo.

Todo mundo entregou? Não sei. Como disse no meu outro post, tem time que perde porque é ruim mesmo. E às vezes "entregar" não é pedir para seu jogador perder a partida e, sim, não seguir um planejamento ideal para conquistar uma vitória. Atrapalhar o planejamento de um time tem efeitos tão grandes quanto um frango ou um chute para fora.

Como nenhum dos cinco "grandões" entregou, não vai se falar muito disso. Mas vimos eliminações de times da primeira divisão em volume inédito na Copa do Brasil. E é óbvio que isso não aconteceu por acaso e, sim, pela bizarrice criada com o "rebaixamento" para a Copa Sul-Americana.

Qual o caminho de cada um agora no torneio? Vamos lá:

Náutico x Sport – quem passar enfrenta o vencedor de Montevideo Wanderers (URU) ou Libertad (PAR) x Mineros de Guayana (VEN) ou Barcelona (EQU)

Portuguesa x Bahia – quem passar pega o vencedor de Guaraní (PAR) ou Oriente Petrolero (BOL) x Inti Gas (PER) ou Atlético Nacional (COL)

Vitória x Coritiba – quem passar pega o vencedor de Blooming (BOL) ou River Plate (URU) x Itagui (COL) ou Juan Aurich (PER)

Criciúma x Ponte Preta – quem ganha pega quem passar de El Tanque Sisley (URU) ou Colo Colo (CHI) x Deportivo Pasto (COL) ou Melgar (PER)

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.