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Julio Gomes

Jô, a chave do sistema. Victor, o herói. Torcida, a melhor

Julio Gomes

25/07/2013 01h08

Ninguém resumiu melhor o estilo de jogo do Atlético do que Tostão. Aliás, ninguém hoje em dia explica melhor o futebol do que Tostão. É o sistema "Galo Doido". Uma conexão incrível do time com a torcida, assustando e empurrando o adversário para trás com muito mais coração do que futebol.

Chamei o Atlético de "unidimensional" taticamente em posts anteriores. E foi mesmo! Foi contra Tijuana, Newell's e Olimpia. Um jogo direto, de bolas longas procurando Jô no ataque. Pouca criação, pouca construção, pouco meio de campo, o jeito de jogar do Galo foi um só: pressionar e mandar bola pra frente, ligação defesa-ataque.

Um sistema que não funciona em campeonatos longos, mas que pode dar certo em mata-mata. Desde que o alvo, lá na frente, consiga aguentar as porradas, cotoveladas e seja capaz de segurar a bola. De dominá-la e, de alguma forma, distribuí-la. E foi isso que Jô fez. E fez bem demais.

Jô foi a chave do Atlético no segundo tempo contra o Olimpia, na reta final contra o Newell's e basicamente em todos os momentos. A bola sobe, o cara ganha quase todas as jogadas e, assim, o Atlético já está no ataque. Aí, a jogada se desenvolve lá na frente com Tardelli, Bernard, quem seja. Só com um cara desses podia funcionar o sistema Galo Doido.

Victor foi a estrela que salvou o Atlético quando foi preciso. Especialmente contra o Tijuana, aquele mano a mano e aquele pênalti. Depois, contra o Newell's e contra o Olimpia nas disputas de pênaltis. Foi o grande homem do Atlético. Sem Victor, não haveria título.

Victor e Jô foram contratações que deram certo. Depois de anos de acertos e erros, o Galo finalmente foi acertando a mão com um presidente que todo clube gostaria de ter. Kalil foi o homem que trouxe Ronaldinho. E trazer Ronaldinho talvez tenha sido o divisor de águas.

Porque independente do que faça Ronaldinho, sua simples presença é um recado que os outros jogadores recebem, que os adversários recebem. É um jogador que tira um clube de um patamar e coloca em outro. Foi o que aconteceu no ano passado, quando o Galo disputou o título brasileiro e ganhou a vaga que gerou essa noite histórica no Mineirão.

Ronaldinho não jogou rigorosamente nada contra Tijuana, Newell's e Olimpia. Mas e daí? Sua presença fez o Brasil inteiro, a América do Sul, o mundo deixarem de ver o Atlético como "café com leite" e passarem a ver como a força que nunca poderia ter deixado de ser. E respeito dentro de campo importa muito nessa coisa chamada futebol.

Uma parada de um mês que ajudou demais um clube destroçado fisicamente. Uma queda de luz fundamental para mudar a história da volta contra o Newell's. O escorregão de Ferreyra. E Victor, muito Victor. Tudo estava escrito para que o Atlético chegasse lá. Não tem campeão sem sorte. E a sorte vem para quem faz por merecer.

E essa torcida merece, como merece. Outro dia tive a curiosidade de ver os líderes em média de público na história dos Campeonatos Brasileiros. O Flamengo, mais popular do país, foi o líder 12 vezes. O Corinthians, segundo mais popular, líder 8 vezes. E o Galo? Mesmo com 41 anos de jejum nacional, o Galo foi líder em média de público 9 vezes. Mais que o Corinthians, pertinho do Flamengo.

É uma torcida impressionante. Toda torcida acha que é "a melhor do Brasil", "melhor do mundo", "melhor do bairro". Se eu fosse votar em uma, votaria na do Galo. Porque torcer por time que ganha é fácil, duro é manter o fanatismo e a assiduidade nos momentos ruins. Kalil chamou de "a mais chata do Brasil, de longe". Quem torce muito é chato mesmo, oras! E atleticano torce muito. Mas muito. Como poucos torcem no mundo.

Solte o grito, Galo Doido! Você é o dono das Américas!!

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.