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Julio Gomes

Quatro gênios que abrilhantam e depõem contra o Brasileirão

Julio Gomes

22/07/2013 00h08

Seedorf, Alex, Zé Roberto e Juninho Pernambucano. A ordem dos nomes segue a ordem dos respectivos times na tabela do Brasileirão, apenas para usar um critério qualquer. Quatro nomes, quatro craques, quatro gênios do futebol nos últimos 20 anos. Quatro atletas profissionais (olho, porque nem todos são) e que escancaram o nível do Brasileirão. Que não é baixo e nem alto. É medião mesmo.

A semana passada foi a rodada dos estrangeiros. Agora, a rodada dos "velhinhos". Tem algo esquisito aí…

O Botafogo é o líder do campeonato. O que isso significa? Significa que vem fazendo bem seu trabalho enquanto o campeonato não ganha o viés maratônico, quando jogadores começam a se machucar e tomar cartões. É essa hora que um elenco reduzido e com atrasos salariais deve perder fôlego e "cair" para a briga por Libertadores, não por título. O que não é pouco, dado o orçamento do Botafogo frente a outros clubes (muito) mais ricos da cidade e do futebol brasileiro. E isso só é possível porque Seedorf exerce uma liderança técnica e também comportamental no vestiário.

Alex, o meia mais eficiente que já vi jogar. Quando digo eficiência, me refiro a números que ele entrega, ou seja, quantidade de gols e quantidade de assistências. O Coritiba, não se enganem, não irá brigar pelo título. E acho difícil demais que brigue por Libertadores, por orçamento e tamanho de elenco. Se isso ocorrer, será pelos 20 a 25 pontos que Alex dará ao clube com seus gols e passes de gol. É o que tira o time de uma luta contra o rebaixamento para colocá-lo em outro patamar na tabela.

Zé Roberto pode ser a chave para o Grêmio brigar pelo título. E Juninho Pernambucano, pelo que vimos no Maracanã, deverá ser o fator decisivo para tirar o Vasco da incômoda parte de baixo da tabela e jogá-lo para o meio.

O gol de Juninho contra o Fluminense. O de Zé Roberto contra o Criciúma. Os de Alex contra o Santos. O de Seedorf, semana passada. São gols de gente que sabe o que está fazendo. Calma, precisão, experiência de quem já fez muito gol e já perdeu muito gol também. Que já viu goleiros caírem para um lado, para o outro, não caírem. É uma mistura de vivência com QI futebolístico alto, e a inteligência dentro de campo é o que mais se deveria buscar no trabalho de base em qualquer lugar. Há tempos, o futebol é mais jogado com a cabeça do que com os pés.

Gostei demais da declaração de Juninho sobre o gol no Maracanã. "Naquele lance eu precisava atacar a bola. Não era fácil, tinha que atacar e pegar firme". Uma coisa, amigos, é fazer algo espetacular com uma bola de futebol. Outra coisa é fazer e saber por que fez e como fez. Uma coisa é a prática. Outra, bem mais valiosa, é a prática aliada à teoria do jogo.

Os quatro jogadores citados neste post combinam liderança técnica com liderança de postura dentro do vestiário. São ícones. São ultraprofissionais, não faltaram com os clubes por onde passaram e sempre entenderam que não haveria carreira sem uma aliança fiel com seus respectivos corpos. Tem muito jogador histórico de quem todos têm pena pelas lesões. "Que azarado", "que falta de sorte", "que infelicidade". Alguns casos são tudo isso, outros, não. Jogador que se cuida fora de campo, jogador comprometido com o corpo diminui as possibilidades de um contratempo físico. Isso, os quatro sempre tiveram.

Outra coisa em comum entre eles é que o mercado europeu, pelo menos o mercado de alto nível, não está mais aberto. A genialidade de cada um ainda teria valor na Europa, mas perderia espaço em um jogo tão físico, altamente técnico, intenso e veloz. No Brasil, a maioria dos jogos têm elementos táticos e de intensidade ainda incipientes. Neste futebol, disputado de área a área, com tantos metros e segundos disponíveis, Seedorf, Alex, Zé Roberto e Juninho conseguem estender suas brilhantes carreiras e ainda fazer diferença.

Com um olho, me alegro. Já falei com os quatro na vida, são grandes caras e fico feliz em vê-los se divertindo por mais tempo do que haviam planejado. Com o outro olho, me preocupo. O tamanho do protagonismo destes "vovôs" é o maior recibo que pode passar um campeonato que se orgulha de seu equilíbrio, mas não deveria se orgulhar nem um pouco dos níveis técnico e tático.

Torço também pelos olhos de Felipão, que tem uma seleção boa, com alto potencial, mas muito jovem e inexperiente. Que tal Alex na Copa? Que tal Zé Roberto? Que tal os dois? Jogadores que podem dar uma contribuição valiosíssima fora de campo e, por que não, dentro também em algumas situações.

PS – quando elogiei os vovôs no Twitter (www.twitter.com/juliogomesfilho), alguns amigos falaram de Ronaldinho e Danilo. Vejam. Ronaldinho teve momentos na carreira, entre 2004 e 2006, de um nível nunca atingido pelos quatro jogadores citados. Mas não teve o mesmo comprometimento, com clubes e corpo, por onde passou. Não teve a mesma consistência na carreira. Já Danilo, a quem respeito demais, é um vitorioso, um jogador de grupo e importantíssimo. Mas que não atingiu o nível técnico dos quatro. Eu não avalio jogadores por títulos conquistados, o futebol é mais complexo do que isso. No Brasileirão de hoje, com a saída de Neymar, ninguém supera o valor agregado do pacote Seedorf, do pacote Alex, do pacote Zé Roberto e do pacote Juninho.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.