A vitória que não pode enganar ninguém e o exemplo de Cavani

O Brasil caiu na real. Foi com essa impressão que acabei de ver a vitória da seleção sobre o Uruguai por 2 a 1. Um jogo que expôs todos os problemas do Brasil, de cabo a rabo, do começo ao fim. Pode ser uma dádiva, um jogo como estes. Porque ele dá experiência ao time, dá milhagem e pode ser usado para a correção de muitos pepinos. Ou então ele pode ser ignorado e virar festa.

Gostei demais do que Luiz Felipe Scolari disse na saída de campo. "Sabemos que não jogamos bem, nosso time ainda fica muito afoito, tem dificuldades em jogos que ficam um pouco diferentes…"

E não gostei nada da declaração de Paulinho, um minuto antes, quando questionado por Mauro Naves, da Globo, sobre o mau jogo do Brasil. Fez careta, não gostou da pergunta e mandou: "Às vezes a joga bem e perde, às vezes vocês falam que joga mal… o que importa é que vencemos".

Um, no mundo real. O outro, nesse mundo do "o que vale é vencer" em que vive o futebol brasileiro há 30 anos. Vivendo nesse mundo, às vezes perde-se, às vezes ganha-se, mas não evoluímos. Não inventamos, não avançamos, só copiamos e corremos atrás.

O Uruguai jogou exatamente como todos imaginavam, marcando bem, preenchendo espaços e juntando linhas. O trabalho defensivo que fazem Forlán, Cavani e Suárez é impressionante. Impressionante. Intensidade total.

No meu último post, nesta tribuna, falei sobre isso. O Brasil fez muitas faltas ao longo do torneio porque se propôs a marcar forte no ataque, montar um sistema de pressão à saída de bola rival. Mas faz faltas porque os atacantes não sabem marcar, nunca foram treinados para fazer bem essa faceta do jogo.

Neymar precisa olhar para Cavani e pensar bem no que vem pela frente na Europa e nos jogos grandes da Copa do ano que vem. Porque, na frente, ele tem muito talento, muita bola, muito gol. Se garante, enfim. No entanto, o futebol de hoje em dia não admite mais jogadores que não participem de todas as facetas do jogo. Neymar terá de aprender a trabalhar coletivamente e defensivamente para ser um grande. Para ser, por exemplo, maior que Cavani por lá.

Hoje, Cavani deu exemplo. Foi o melhor em campo, sem dúvida alguma. Marcando com precisão e intensidade e saindo rápido para o ataque quando o Uruguai recuperava a bola. Foi premiado com um gol.

Os atacantes brasileiros, hoje, não marcaram como nos outros jogos. E não conseguiram achar soluções para sair da marcação uruguaia. Uma vez mais, ficou evidenciada a lenta transição de bola. O Brasil sofre quando tem a posse e se depara com um time bem montado, são muitas as dificuldades. Isso expõe Oscar, que tem sido muito criticado, mas é quem mais se sacrifica em campo. E quem é tão ou mais responsável por essa saída é Paulinho, que se perdeu no emaranhado de jogadores uruguaios no meio, sem conseguir associações.

Paulinho fez uma má partida. Mas decidiu a mesma. Com um lançamento primoroso para Neymar no primeiro gol e, claro, com o próprio segundo gol, aproveitando-se do despiste de Cáceres no escanteio. Podem me xingar à vontade. Quem me acompanha, sabe que eu considero que um cara pode fazer uma grande partida sem aparecer, assim como o cara pode fazer uma má partida, aparecendo.

Paulinho, repito, decidiu a partida. Mas, ao longo dos 90 minutos, teve uma atuação opaca e pouco tocou na bola. Ele e Oscar são os homens-chave para que a saída de bola flua. Hoje, não fluiu.

No meio do segundo tempo, o Uruguai cansou. É um time formado por jogadores em fim de temporada e que acabou sentindo o peso da intensidade. Oscar Tabarez arriscou, guardou as alterações para a prorrogação e pagou o preço. Neste momento e com a entrada de Bernard, colocando a correria que não é a característica de Hulk (e que Lucas não mostrou quando entrou), o jogo mudou.

Aí sim, o Brasil cresceu, empurrou e chegou ao gol da vitória. Que não pode ser chamada de injusta. O Uruguai teve suas chances e perdeu, o Brasil aproveitou melhor as individualidades.

Ataque sumido, meio opaco e defesa com erros individuais raros. É impressionante como a calma de Thiago Silva contrasta com a adrenalina de David Luiz. Excesso de calma e confiança acabam em lances como o gol do Uruguai, excesso de adrenalina acabam no pênalti que poderia ter mudado a história do jogo.

Júlio César. Um grande. Quem diria, Júlio César parou a aldeia gaulesa – adoro essa metáfora sobre o Uruguai. Ele e Fred são os grandes acertos de Felipão em relação à era Mano Menezes.

O maior dos acertos, no entanto, é perceber que o Brasil ainda tem muito o que fazer. Muito.