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Julio Gomes

Um balanço do Brasileiro embolado: Ninguém fez muito mais ou muito menos do que deveria

Julio Gomes

13/06/2013 12h23

O Brasileirão começou e já parou. Como nenhum time abriu vantagem significativa, como vimos em outras ocasiões, é como se não tivesse começado mesmo. Tudo embolado, todo mundo ali meio junto e agora vem a janela de transferência europeia, que pode tirar gente importante – e mesmo gente nem tão importante, mas é sempre bom lembrar que esse é um campeonato formato "maratona", então elenco, reservas, opções são elementos importantes para quem quer ganhar o título, chegar à Libertadores ou não ser rebaixado.

O Coritiba é o líder basicamente por causa daquela vitória sobre o Fluminense. Foi um jogo dominado pelo Flu, que poderia estar já liderando a competição, mesmo com tantos desfalques, seleção e o desgaste da Libertadores. Mas, no fim, Alex meteu o golaço que rendeu a vitória.

Importante ter jogadores como Alex. Um cara de 400 gols na carreira e outras centenas de assistências, um jogador que nunca caiu "no gosto" de muita gente. Para mim, sempre foi e sempre será um verdadeiro craque, um meia com números de atacante. Alex aportará gols e passes de gols que serão suficientes para o Coritiba não ter de pensar em rebaixamento. Acho muito difícil, no entanto, serem tantos gols para colocar o Coxa em uma briga de Libertadores. Por enquanto, dois empates fora e uma vitória em casa contra times de "sua liga" e duas vitórias em casa sobre dois favoritos ao título, em um ótimo momento para enfrentá-los. Mantenho minha opinião de antes do torneio: é time de meio da tabela, sem sustos nem sonhos.

Aliás, essas cinco rodadas confirmaram tudo o que eu pensava antes de começar o campeonato. Não boto nenhum time acima do que eu imaginava e nem abaixo. Dos favoritos ao título ou candidatos a Libertadores, o único que fez o que dele se esperava foi o Botafogo.

Time regular, ganhou três em cinco, somou 10 pontos em 15 possíveis. É um time certinho, bem organizado, bem treinado, entrosado e que aproveitou a folga que teve por ganhar o Estadual por antecipação.

Vou dividir a análise em blocos que, na minha opinião, determinam o que cada time pode fazer nesse campeonato:

TÍTULO:
Para mim, uma questão de três. Corinthians, Fluminense e Atlético Mineiro, que já foram os três melhores do ano passado e seguem sendo. O Fluminense não brilha, e não brilhará mesmo, não é o estilo de seu treinador. É um time de consistência defensiva, linhas próximas e elenco grande. O que permite ganhar partidas mesmo quando titulares estão fora por diversas razões. Perdeu um jogo que merecia ganhar, em Curitiba, e perdeu três pontos bobos no Canindé. Foi melhor que a Portuguesa, ontem, mas não tão melhor quanto deveria ter sido. Faltou "punch", faltou aquela disposição de se impor contra um time mais fraco em um estádio vazio. Esses foram os tropeços que o Fluminense não teve no ano passado, então fica o toque de atenção.

Elenco cheio e jogadores para todas as posições são características de clubes endinheirados. Fluminense e, claro, Corinthians. Para mim, a grande decepção deste início do campeonato. O Corinthians perdeu uma oportunidade de ouro de ganhar os cinco jogos, dados os adversários que enfrentou e as circunstâncias dos jogos. Parece mesmo faltar perna ao time, mas há algo além disso. Acho que está faltando aquela faca nos dentes do ano passado, na campanha da Libertadores. A eliminação nesse ano foi decorrência disso, entre outros fatores, e agora Tite tem a missão de recuperar a vontade de ganhar, requisito básico para qualquer time que queira… ganhar.

Os gols perdidos por Pato podem ser colocados nessa conta. Mas foram gols perdidos em ocasiões criadas, não considero que Alexandre Pato esteja jogando mal. Não é a bola para dentro que determina a boa ou má atuação do jogador ao longo da partida. Mas esse é um "detalhe", convenhamos, importante para atacantes, um detalhe que significa pontos na tabela. Sigo achando o Corinthians favorito ao título, mas logicamente não foi aproveitada a chance de abrir vantagem nesse início – como o próprio Corinthians fizera em 2011.

O Atlético Mineiro sentiu fisicamente, a Libertadores passou fatura. Mas os 4 pontos, apesar de poucos, são 2 a menos que os do Corinthians e 5 a menos que os do Fluminense. Há margem de sobra para recuperar o terreno perdido. A Libertadores vai ditar o futuro do Atlético. Se ganhar o torneio, deixar de estar na disputa do Brasileiro, pelas infames razões que conhecemos e que são consequência do nosso maravilhoso calendário. Se perder a Libertadores, vai focar no campeonato e brigar. Chaves: substituir Bernard à altura, se ele sair mesmo, e recuperar o time fisicamente durante este mês de descanso.

LIBERTADORES:
Este é o bloco que tem, além dos três de cima, logicamente, Botafogo, São Paulo, Internacional e Grêmio. Muita gente coloca o Cruzeiro aqui. Eu ainda não me convenci. Acredito que os quatro clubes citados ameaçarão entrar na briga pelo título em algum momento, mas dificilmente conseguirão se manter. Vejo todos eles, no entanto, como reais perseguidores a uma das vagas na Libertadores.

O Botafogo, eu já disse, fez o que dele se esperava. O São Paulo poderia ser líder, o único resultado fora da curva foi a derrota para o Goiás. Parece, no entanto, que o momento de instabilidade fora dos campos e um treinador na corda bamba constante são fatores que vão gerar mais resultados como este. Os gaúchos decepcionaram. O Inter perdeu cinco pontos inexplicáveis contra Bahia e Portuguesa, e jogar fora de seu estádio é um fator mais negativo do que parece. O Grêmio simplesmente não está emplacando. Em janeiro de 2013, era o meu candidato número um ao título brasileiro. Hoje, não é mais. Parece que algo não encaixa entre Luxemburgo, jogadores, diretoria, enfim. O potencial está lá, mas para ser campeão é necessária uma consistência que o Grêmio não teve nesse ano, e nada indica que passará a ter.

BLOCÃO DO MEIO:
Aqui eu coloco Cruzeiro, Flamengo, Vasco, Santos e Coritiba. São os clubes que, eu acho, ficarão ali no meio da tabela, entre oitavo e décimo-terceiro. O Cruzeiro tem potencial para sonhar com algo lá mais para cima. E Santos e Vasco, na minha opinião, andam em uma linha tênue entre esse bloco do meio e o bloco de rebaixamento. O Santos, lembrem-se, tinha números de rebaixado sem Neymar ano passado. E Neymar se foi. Se não vierem reforços importantes, o Santos, sem dúvida alguma, é time para lugar contra a degola. Acho, no entanto, que chegarão nomes (Robinho, por exemplo) que alçarão o time à mesma posição do Coritiba. Ganhando jogos e pontos que o deixarão ali no meio.

O Vasco e o Flamengo também têm times para lutar contra degola, especialmente o primeiro. A diferença é que o Flamengo "acha" dinheiro para trazer um par de jogadores que o façam chegar a uma campanha como a do ano passado, sem sustos nem sonhos. O Vasco tem um técnico que eu admiro muito, e nada mais do que isso. Se o Vasco, num desses arroubos de administração típicos do futebol brasileiro, mandar Paulo Autuori embora e romper o trabalho, vai ter que suar para ficar na primeira divisão. Se der sequência e entender que um décimo terceiro lugar está bom demais, não deverá sofrer.

REBAIXAMENTO:
Os times do "outro campeonato". O bloco de times médios do país, que ficaram totalmente alijados de qualquer disputa no momento em que os acordos por direitos de TV foram individualizados. Clubes com orçamentos muito, muito pequenos perto dos "12 grandes" e que viraram os "Osasunas e Zaragozas" do nosso futebol.

Os resultados do Vitória foram parecidos com os do Coritiba, fazendo a lição de casa e arrancando três pontos importantes fora contra o Náutico, um concorrente "direto" lá em baixo. É um time bem treinado, que também pode passar um campeonato sem sustos. Nada mais que isso, a vice-liderança não me ilude nem um pouco. O Bahia teve um sopro com Cristóvão, mas é outro que não pode se iludir – a luta é para não cair.

Hoje, Náutico e Portuguesa parecem ser os dois times mais "prontos" para cair. Mas Goiás, Criciúma, Ponte Preta e Atlético Paranaense não mostram sinais de se desgarrar ali de baixo, como fizeram Coritiba e Vitória. A briga para não cair vai ser entre a turma pobre do campeonato mesmo, como foi nos últimos anos e como será sempre, perpetuada essa divisão absurda de dinheiro. O Vasco e o Santos são os únicos dos grandes que têm que tomar cuidado e fazer a coisa certa, para não virar o Palmeiras da vez.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.